No calor do atendimento

Por Marco Aurélio Alves

Quando eram 13 horas e 30 minutos da última quarta feira, em Porto Alegre, com o termômetro marcando 37°, comecei a ligar para um órgão público afim de buscar informação sobre a quitação de um imposto estadual. Considerando que o telefone do daquela rígida Secretaria chamava sem que ninguém atendesse, disquei chamando o similar no Município, onde também me resta tributo por quitar. Não foi melhor a minha sorte. Também estavam todos ocupados para atender a um contribuinte.

Considerando que eu trabalho no centro decidi por ir pessoalmente buscar as informações necessárias e já que me dispunha a sair no calor, aproveitaria e passaria em vários outros organismos públicos. Foi nesta saída que comecei a lamentar pelo Prefeito Fortunati e pelo Governador Tarso. Só não chorei pelos dois porque o suor que me escorria pelo rosto consumia muito líquido e temi ficar desidratado.

Naquelas salas refrigeradas, onde o frio permite colocar um casaquinho mesmo com a temperatura escaldante da rua, fui encontrando gente e mais gente e muito mais gente sem fazer absolutamente nada, me olhando como se eu fosse um ET que tivesse o atrevimento de ir até ali cumprir com minhas obrigações de cidadão e quitar meus débitos.

Se intimidade tivesse com o Prefeito e com o Governador sugeriria a ambos que decretassem férias coletivas durante o verão evitando que outros passassem pelo constrangimento que passei. Em todos os órgãos em que fui, em diferentes repartições municipais e estaduais, localizadas na ruas Sete de Setembro, Siqueira Campos, Caldas Junior, Andradas, Borges de Medeiros, Praça Montevidéu ou Praça da Matriz, havia em exército de servidores, prestadores de serviço ou estagiários sem nada fazer e olhando com cara de poucos amigos à quem entrava, com o suor escorrendo, querendo ser atendido. Seria cômico se não fosse dramático o estado de letargia que vive nosso serviço público. Não comento sobre o federal porque não estive em nenhum mas duvido que difira em alguma coisa.

Certamente muitos se apressarão em me dizer que existem Servidores Públicos que trabalham com competência e eficiência, que em alguns setores existe um atendimento de excelência, que os salários do serviço público são defasados e uma argumentação que poderá encher muitas laudas. Sei disso. Concordo plenamente com tais afirmativas e por esta mesma razão, peço aos nossos Gestores que olhem com responsabilidade para o excesso de contingente em algumas áreas e o abandono de outras que clamam por mais servidores e não recebem.

Lembrei da, já esquecida, meritocracia que bem poderia auxiliar na resolução destas questões. Pensei nas avaliações a que estão expostos os Servidores e na inutilidade de submeter seu rendimento a apreciação, na maior parte dos casos, de amigos que chegaram a postos mais elevados. Ainda tenho presente os 22 anos em que atuei no Serviço Público e vi que existe muito trabalho para quem quer trabalhar mas poucos exigem que resultados. Pensei em quantos servidores terão sido exonerados, no Brasil, nos últimos 10 anos, por ineficiência, ineficácia ou incompetência. Provavelmente, nenhum!

Enquanto andava pelas ruas escaldantes, entre um e outro setor, vi que os garis estavam limpando, os soldados fazendo a vigília, orientadores de trânsito agindo e mais do que tudo, vi que quem mantém esta máquina pública, a iniciativa privada, trabalha sem parar, com sol ou frio, com defasagem de funcionários, com falta de gente que queira pegar no pesado, com uma carga tributária tal violenta que já ultrapassa a fatia do bolo que deveria ser dividida entre quem produz.

Caso o Governador e o Prefeito fizessem périplo semelhante – algo que Jânio Quadros fazia com frequência – encontrariam muita gente ociosa pelos gabinetes e poderiam realocar estes profissionais, ou mesmo os recursos para abrir concursos objetivando atender setores estruturais que emperram o crescimento do Estado por falta de gente ou oferecer um atendimento mais digno à todos os Cidadãos. Eu e toda a torcida do Inter e do Grêmio, nos sentiremos orgulhosos em dividir nossa renda com o poder público quando soubermos que a aplicação é adequada o que hoje, certamente, não é.

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